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terça-feira, 17 de maio de 2011

Expressões do quotidiano e suas explicações (11).

Enfiar a carapuça


Todos a enfiámos nalgum momento da nossa vida mas ,felizmente, não no momento a que a origem desta expressão se refere
A Inquisição, tribunal religioso  de má memória , tinha métodos terríveis para extrair confissões e condenar os alegados culpados de heresia.
Todo o processo seguido por este tribunal estava regularizado e, num dos seus passos, é que  se insere a expressão de hoje. Não no primeiro,a fase de denúncia,nem na do que se seguia a instrução do processo  mas sim na instrução do sumário, em que se efectuava um minucioso interrogatório individual . A este tribunal os acusados compareciam vestidos com um poncho (o Sambenito) e um chapéu longo e pontiagudo ( carepuza em espanhol), sinal para o tribunal de aceitação da culpa perante o Santo Ofício. Esta atitude de aceitação , de barrete ou carapuça enfiados na cabeça significa ainda, nos nossos dias,assumir uma culpa ou sentir-se atingido por alguma alusão. Para nós termina aqui, mas, para os desgraçados daquele tempo, continuava o suplício.Depois de admoestado três vezes seguidas, para que dissessem a verdade?! , o tribunal deliberava a sentença a submeter o réu .Caso não muito frequente,era o réu ser absolvido, o mais comum era o processo continuar para se concluir pela inocência  ou culpa do mesmo.Chegava-se à altura de serem aplicadas terríveis torturas que faziam culpados ou inocentes confessarem, denunciarem tudo de que eram ou acusados e ainda mais, se fosse preciso.Até a família se denunciava só para parar com o sofrimento. Temos como exemplos dos tormentos utilizados, o queimar os pés, fazendo as pessoas andarem sobre carvão a arder,  a tortura da água em que se enfiava  na boca do acusado um pano para o obrigar a engolir sucessivos jarros de água, a roldana onde se pendurava o preso, pelos pulsos.Depois, a roldana içava-se e  deixava-se caí-lo, de repente, ou, finalmente o chamado suplício do potro que consistia num bastidor, uma armação em ferro,  a que se atava o réu com cordas e o carrasco podia  comprimir, deformando,a sua carne à vontade.Para terminar o processo , a morte,  os autos de fé onde os penitenciados e os condenados iam morrer queimados e que serviam de exemplo e de distracção para quem assistisse a este espectáculo desumano.
 Impressiona saber que uma frase dita tão inúmeras vezes,nas nossas conversas, às vezes com tanta ironia, tem um legado tão forte  mas  da Inquisição estamos livres desde o século XVIII e pelo menos esta já não nos fará enfiar a carapuça- O pior é se outros vierem.....


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