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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Expressões do quotidiano e suas explicações (14).

            Olho por olho e dente por dente

Preocupante, é o mínimo que se pode dizer, destas reportagens e notícias, diariamente divulgadas, sobre este sentimento de impunidade quando se tenta fazer justíça pelas nossas próprias mãos.
A esta a justiça de desforra correspondente à ofensa ,ou seja de "olho por olho dente por dente,  chama-se, normalmente, pena de talião, mas longe  vão os tempos em que era aplicada. A justiça baseada neste princípio é um procedimento assustador e que gera mais violência.  

O primeiro corpo de leis, escrito, de que se tem notícia, foi encontrado na Babilónia , no século XVII A.C, o denominado Código de Hammurábi.  Neste código estabelecia-se uma forma muitíssimo severa de tratar os prevaricadores .O criminoso era  punido taliter,  talmente, ou seja, de maneira igual ao dano causado a outrem. . Essa lei permitia evitar que as pessoas fizessem justiça elas mesmas, introduzindo, assim, um início de ordem na sociedade com relação ao tratamento de crimes e delitos, “olho por olho, dente por dente“. Os criminosos eram condenados de maneira igual ao dano causado a outrem, mas de forma desigual já que a punição era dada de acordo com a categoria social do criminoso e da vítima.
Temos hoje leis que permitem castigar quem erra, sem que seja necessário  recorrermos a tais extremos, mas é preciso sermos céleres nessa sua aplicação para descanso e protecção de todos incluindo  quem comete tais acções.



domingo, 22 de maio de 2011

Expressões do quotidiano e suas explicações (13).

Santinho de pau oco


Segundo a minha fonte de informação esta expressão aplica-se a quem se faz de bonzinho mas não é. Com a campanha eleitoral a começar temos por onde escolher a sua aplicação e, a quem servir o carapuço ,que o vista!
A sua origem é, todavia, mais antiga e situa-se no século XVII quando se mandavam de Portugal para o Brasil imagens de santos esculpidas em madeira rústica, com um orifício por dentro, onde se metia moedas, dizem que falsas, para serem enviadas daqui para o Brasil. 
No século XVIII a coroa portuguesa, com o rei D. João V, sempre ávido do precioso metal que lhe permitia investir em grandes projectos, nem sempre de utilidade pública mas que demonstravam , sobretudo ao estrangeiro, a sua riqueza e poder,instituiu um imposto, a quintalada,  sobre o ouro do Brasil. A quinta parte de todo o ouro, ali encontrado ,pertencia ao rei e para isso criaram-se as " Casa de Fundição" para onde o ouro era transportado e transformado em barras, retirando-se a parte que pertencia ao rei. Conta-se que um seringueiro Filipe, que foi um dos líderes de um protesto contra uma destas casas, acabou preso, mandado para Lisboa para ser executado e sujeito a uma morte vil e terrível. Arrastado por quatro cavalos foi morto por meio do garrote, forma usada e, se calhar inventada, em Espanha (onde foi utilizado nas últimas décadas do século passado para executar um chefe etarra) em que o condenado está preso, imóvel com uma argola ao pescoço que era apertada até ele soltar o último suspiro
Para assegurar a cobrança dos impostos reais e evitar o contrabando  do ouro o rei ordenou que este fosse fundido em barras e essas fossem cunhadas com as armas reais e nelas gravados o peso e o ano de fundição mas  os contrabandistas serviam-se destas imagens para esconder o ouro e fugir à fiscalização.   Donos das minas e proprietários de terras também as utilizavam para ocultar as suas riquezas e para as mandar, sobretudo as imagens maiores, para Portugal, como se fossem presentes para os seus parentes. 
As imagens religiosas ocas transformaram-se em  santos de aparência mas de interior duvidoso.




Verdadeira santa de pau oco

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Pausa para o café

Adultérios dos reis portugueses                                                                     



Já lá vão  doze expressões baseadas em pacotes de açúcar e é altura de tomar um café sem pensar neles.É uma luta conseguir um novo e resolvi tomar o meu café descansada sem me preocupar se conheço esta ou aquela aquela expressão. Dediquei-me a olhar para as revistas enquanto saboreava aquele gostinho acre e houve um tema que me chamou a atenção. Nada de política ,de que não percebo nada, mas de que já andamos saturados.Decidi-me por me entreter um pouco com curiosidades do passado. 

Após quase um mês depois do casamento real de Inglaterra e do recordar das relações extra conjugais dos pais do príncipe William (foi isso que vi na capa da revista) lembrei-me que os nossos reis também não foram uns santos. Na escola, antigamente, não se falava nessas coisas porque iam contra a moral e os bons costumes da época, mas hoje esses tabus felizmente passaram. Desde o nosso primeiro rei que quase todos tiveram as suas concubinas, fossem elas senhoras nobres, casada, solteiras, viúvas, criadas, prostitutas, conforme o gosto de cada um, a quem garantiam seu futuro com doações generosas de dinheiro, rendas e herdades. Os filhos bastardos, aceites por todos, recebiam cargos, títulos e uniam-se pelos casamentos a poderosas famílias. D. Afonso IV chegou a preferir o seu filho bastardo, D. Afonso, ao seu sucessor D. Dinis. De  D. Afonso Henriques, o primeiro monarca a ter amantes, a D. Dinis, um rei de grande fogosidade, a D. João V, conhecido pelas suas aventuras amorosas dentro do convento de Odivelas, a D. José e à relação com Teresa de Távora, da qual até a rainha tinha conhecimento, a D. Pedro IV, que se deixou contagiar pelos amores em terras de Vera Cruz, ou a D. Carlos que se interessava mais pelas questões da carne do que pela governação, da história oficial dos reis portugueses e dos seus casamentos de Estado com princesas de toda a Europa, esconde-se uma história de paixões arrebatadoras.
Da primeira dinastia sempre se falou do “namoradeiro” D. Dinis de quem a Rainha Isabel duvidava e com razão, e por isso a lenda lhe atribuiu a pergunta: “Ides vê-las” que teria dado origem ao nome de Odivelas. Não está confirmado mas é sugestivo..... é explicação interessante. D. Afonso III, um rei bígamo, que sendo casado com uma, casou, por razões políticas, mas com autorização do Papa, com outra mulher e ainda teve tempo para ter onze amantes.
 D. Fernando que teve um caso com uma meia-irmã e ele próprio infanticida de um filho bastardo de sua mulher (que não era flor que se cheirasse);D. Sebastião um rei a quem não se conheceu mulher e de que se fala que poderá ter sido vítima de violação, em pequeno, e se insinua ter tendências homossexuais. Dessa fama não se livrou também D. Afonso VI que, por necessidade de anular o seu casamento para a sua mulher poder casar novamente com seu irmão, o nosso D. Pedro II , foi sujeito a um escrutínio humilhante da sua vida sexual, tendo deposto contra a sua virilidade várias mulheres que descreveram a sua impotência perante todos. Narraram com minúcia e depreciação o desenho, tamanho e aparência do seu membro nada viril. Afonso VI, já sob prisão, acabou por assinar a confissão da sua impotência. O seu sucessor e irmão, pelo contrário, desfrutou de incontáveis amantes, freiras, prostitutas, criadas, negras, mulatas, de quem teve descendência farta. A mulher não achava graça nenhuma a estas infidelidades e foi afastando as rivais do paço mas teve que aceitar os filhos delas. Este rei, insaciável, ainda desfrutava da companhia de prostitutas nas suas saídas nocturnas.
D. João V conseguiu ultrapassar todos. Mulherengo inveterado, seria hoje acusado, por muitas mulheres, de assédio sexual. Nenhuma lhe escapava e era….o rei iluminado e déspota. Sobejamente ficaram conhecidos, para a História, os filhos da sua amante mais notável, a Madre Paula, mãe dos seus três filhos bastardos, mas reconhecidos pelo rei, ‘os meninos da Palhavã’ (porque foram educados no palácio onde é hoje a Embaixada de Espanha). Esbanjador das riquezas que então chegavam a Portugal, dava presentes dispendiosos e a esta e à sua descendência, D. João V, proporcionou-lhe bem-estar económico, mandando construir-lhe uma casa faustosa com tectos a talha dourada, camas forradas a lâmina de prata e jarros de prata para urinar. Ciumento de feitio e não gostando de rivais, mandou matar os amantes de uma cigana com quem se relacionou e que, pelos vistos, não se contentava com os prazeres da alcova real. Já na casa dos cinquenta ainda mandava comprar afrodisíacos para manter a centelha que até aí tinha mantido bem acesa.
Seu filho D. José, fez jus ao pai, mas infelizmente um dos seus casos deu origem a um terrível processo que fez uma família, os Távoras, serem condenados a uma morte indigna e horrorosa à qual não foi alheia a acção do Marquês de Pombal. Não reconheceu nenhum filho bastardo, talvez devido ao carácter ciumento de sua mulher D. Isabel que proibiu a presença de actrizes no palácio. De pouco serviu!
Mulheres traidoras?!
Além de D. Leonor Teles, a mais escandalosa foi D. Carlota Joaquina, assustadoramente feia, mas que ficou conhecida por ser ninfomaníaca e se suspeitar que assassinou o rei seu marido que, para não destoar da mulher, foi acusado de ser homossexual.
Segui-se-lhe D. Pedro IV, outro predador sexual , de comportamento libertino e insaciável que não  era esquisito a escolher já que o seu apetite era  insaciáve. “Levava  tudo a eito: casadas, solteiras e viúvas, de qualquer raça e condição social, a dois ou a três se as irmãs se juntassem, criadas e restantes mulheres da casa incluídas. Casado com a princesa austríaca Leopoldina, cujo sofrimento e humilhação eram partilhados pelo  povo brasileiro, D.Pedro tinha o desplante de levar mulher e amante juntas nas representações oficiais. Domitília era a amante, aquela a quem devota o seu mais escaldante amor, não deixando evidentemente de engravidar pelo caminho a sua irmã. Elevou toda a família à nobreza, tornando-a uma das mulheres mais ricas do Brasil, e quando a imperatriz Leopoldina, num último assomo de dignidade, pretende voltar à Áustria “
D. Luís um rei que gostava de escrever cartas eróticas, teve alguns casos extra-conjugais, um deles deu que falar com uma actriz, Rosa Damasceno, Mas qual Lady Di a mulher Maria Pia , pagou-lhe com a mesma moeda.
Finalmente um rei diplomata e que foi assassinado pelos seus patriotas,  D. Carlos. O que começou com um casamento feliz  acabou por ser ultrapassado pela avidez do rei, cujo comportamento chegou a ser comentado pela família no estrangeiro, penso que pela rainha Vitoria. Não era esquisito na escolha e as mulheres do povo não repugnavam à sua real pessoa que as  coleccionava sem pudor.
Foram “frescos” os nossos reis, as mentalidades eram outras e a paciência das suas consortes também. Uma plebeia insurgiu-se e hoje outras plebeias, tornadas futuras rainhas, mostram que não estão dispostas a aturar estas infidelidades reais ! Mudam-se os tempos mudam-se as vozes.
 E com tudo isto bebi dois cafés !




quarta-feira, 18 de maio de 2011

Expressões do quotidiano e suas explicações (12).




Até quando abusarão da nossa paciência?
 


Paciência de Job

Job foi um homem bom, justo e temente a Deus. Tinha 10 filhos, mulher, riquezas, gado, terras, criados e oferecia sacrifícios e oferendas a Deus grato pelas suas bênçãos.  Mas o diabo meteu-se no assunto e lançou um desafio a Deus instando-o para que tirasse tudo ao pobre e aí, sim, iria ver como ele o amaldiçoaria. E Deus fez-lhe a vontade, deixando nas mãos do demónio a destruição de tudo o que Job tinha. A casa foi destruída, os filhos morreram,todo o gado que possuía foi roubado, as colheitas queimadas, os criados assassinados. E Job nada, não maldisse o seu Senhor! O diabo insistiu e cobriu Job de chagas da cabeça aos pés e…nada, nenhuma queixa saiu da sua boca. Era chegada a vez da mulher intervir, farta de tanta desgraça incentivou o marido  a maldizer Deus e….Job resistiu! Vieram os amigos lamentar a sua pouca sorte e  de Job nem uma palavra de desespero. Limitou-se a responder-lhes que Deus tinha os seus próprios caminhos e se estava a ser castigado daquele forma alguma coisa de mal devia ter feito. Deus capitulou perante tanta fé, boa vontade , espírito de sofrimento, resignação, persistência, perseverança, admirando a sua capacidade para aguentar grandes contrariedades e restituiu-lhe com muito maior abundância tudo o que lhe tinha tirado!
Não sei o que me deu hoje para estar a torrar a paciência com esta história assustadora, mas sei que no meu pensamento assomam , em paralelo, pequenas expressões tais como: povo português, eleições, FMI , crise, perda de poder de compra, de casa, de pensões e ordenados cortados, enfim palermices que não lembram ao diabo e que claro que nada têm a ver com a expressão “ter paciência de Job” !
Vá-se lá saber porquê mas, para o diabo, não me ocorre nenhuma ligação ?!


terça-feira, 17 de maio de 2011

Expressões do quotidiano e suas explicações (11).

Enfiar a carapuça


Todos a enfiámos nalgum momento da nossa vida mas ,felizmente, não no momento a que a origem desta expressão se refere
A Inquisição, tribunal religioso  de má memória , tinha métodos terríveis para extrair confissões e condenar os alegados culpados de heresia.
Todo o processo seguido por este tribunal estava regularizado e, num dos seus passos, é que  se insere a expressão de hoje. Não no primeiro,a fase de denúncia,nem na do que se seguia a instrução do processo  mas sim na instrução do sumário, em que se efectuava um minucioso interrogatório individual . A este tribunal os acusados compareciam vestidos com um poncho (o Sambenito) e um chapéu longo e pontiagudo ( carepuza em espanhol), sinal para o tribunal de aceitação da culpa perante o Santo Ofício. Esta atitude de aceitação , de barrete ou carapuça enfiados na cabeça significa ainda, nos nossos dias,assumir uma culpa ou sentir-se atingido por alguma alusão. Para nós termina aqui, mas, para os desgraçados daquele tempo, continuava o suplício.Depois de admoestado três vezes seguidas, para que dissessem a verdade?! , o tribunal deliberava a sentença a submeter o réu .Caso não muito frequente,era o réu ser absolvido, o mais comum era o processo continuar para se concluir pela inocência  ou culpa do mesmo.Chegava-se à altura de serem aplicadas terríveis torturas que faziam culpados ou inocentes confessarem, denunciarem tudo de que eram ou acusados e ainda mais, se fosse preciso.Até a família se denunciava só para parar com o sofrimento. Temos como exemplos dos tormentos utilizados, o queimar os pés, fazendo as pessoas andarem sobre carvão a arder,  a tortura da água em que se enfiava  na boca do acusado um pano para o obrigar a engolir sucessivos jarros de água, a roldana onde se pendurava o preso, pelos pulsos.Depois, a roldana içava-se e  deixava-se caí-lo, de repente, ou, finalmente o chamado suplício do potro que consistia num bastidor, uma armação em ferro,  a que se atava o réu com cordas e o carrasco podia  comprimir, deformando,a sua carne à vontade.Para terminar o processo , a morte,  os autos de fé onde os penitenciados e os condenados iam morrer queimados e que serviam de exemplo e de distracção para quem assistisse a este espectáculo desumano.
 Impressiona saber que uma frase dita tão inúmeras vezes,nas nossas conversas, às vezes com tanta ironia, tem um legado tão forte  mas  da Inquisição estamos livres desde o século XVIII e pelo menos esta já não nos fará enfiar a carapuça- O pior é se outros vierem.....


domingo, 15 de maio de 2011

Expressões do quotidiano e suas explicações (10).

Meter a mão no fogo

Todos nós utilizamos repetidamente  esta expressão e percebemos perfeitamente o que quer dizer e o contexto em que a devemos usar no entanto, dificilmente a conseguimos usar, nos dias que correm, para nos responsabilizarmos pela inocência de alguém e só em casos muito raros o fazemos o que lhe dá um valor acrescido.
 Vamos buscar a sua origem à época medieval, às chamadas "provações" ou ordálios tipo de prova judiciária  usada para determinar a  culpa ou a inocência do acusado por meio da participação de elementos da natureza e cujo resultado era interpretado como um juízo divino. Os ordálios em geral consistiam em testar o acusado no fogo ("prova de fogo") ou na água. O fogo costumava ser reservado para testar acusados de origem nobre, enquanto que a água era mais usada para os plebeus. O acusado era submetido a uma prova dolorosa e, baseados numa superstição desse tempo, denominada   "iudiciu, Dei" que significava o julgamento de Deus e o temor a Deus, tão próprio da Idade Média, fazia-os acreditar que Deus ajudava os homens a resolver essas questões por meio de um "milagre" evitando que os réus inocentes  saíssem queimados ou  se afundassem. Seguindo uma certa lógica acreditava-se que, ao fazer participar Deus,nessa provaos culpados preferiam evitar o sofrimento confessando desde logo as suas culpas e os inocentes não tinham medo de se sujeitar a ela pois  ela ajudava a determinar a sua inocência 
 Na Europa, a  expressão" Meter a mão no fogo"  teve origem na prova do fogo.
A um réu que alegasse inocência envolviam-se as mãos com estopa e cera e fazia-se com que ele andasse, por alguns metros, em frente do juíz e das testemunhas, com uma barra de ferro em brasa.  Com o calor a cera derretia rapidamente e as mãos ficavam atadas. Três dias depois a estopa era retirada e as mãos eram examinadas. Existia a crença que, se o réu fosse inocente, Deus lhe teria curado as mãos durante esses três dias, se existissem marcas das queimaduras era considerado culpado e era condenado imediatamente à morte.
Acho sinceramente que se vivesse naquela altura nunca me atreveria o pôr a mão no fogo nem por mim nem por ninguém e mesmo nos dias de hoje duvido....

Mão no fogo

sábado, 14 de maio de 2011

Expressões do quotidiano e suas explicações (9).


Feito em cima do joelho

Que melhor escolha para hoje do que " feito em cima do joelho" ?! É que esta expressão do quotidiano vai ser mesmo feita à pressa e sem grande "engenho" nem perfeição.
A indústria da telha foi, entre os romanos, muito importante e,aqui na Península Ibérica, uma das mais se desenvolveu com a romanização. O trabalho era contudo realizado por escravos que as faziam com barro utilizando,na sua execução, como molde, a própria coxa. Com todos sabemos as coxas não são todas do mesmo tamanho e diferem de pessoa para pessoa, e as telhas saíam de todos os tamanhos conforme o molde de que resultavam.A sua necessidade inquestionável não primava, porém, pela a perfeição ou regularidade e daí nasceu o termo "feito em cima do joelho", tal e qual como o da expressão escolhida para hoje. 


Telhado romano

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Expressões do quotidiano e suas explicações (8).

 É de se lhe tirar o chapéu

Começou o calor, o sol está a resplandescente, Lisboa tem a sua bela luminosidade muito própria e nada nos convida a tirar o chapéu, mas tenho que o tirar, primeiro que tudo, ao dono do café que frequento, que hoje me disse :"- Oh minha senhora leve os pacotes de açúcar que quiser que não paga mais por isso", e além da simpatia ganhei cinco novas expressões. Daqui lhe "tiro o chapéu" por essa bonita atitude, porque é isso mesmo que esta frase significa : qualquer coisa ou atitude muito boa.  

Foi no reinado de Luís XIV, o Rei Sol, que a França disciplinou as saudações feitas com o chapéu.Este tipo de saudação  vinha do tempo do seu antecessor Luís XIII,  altura em que era  aplicada pelos salamaleques que os cortesãos trocavam inúmeras vezes entre si..Os cumprimentos podiam ser feitos com um toque na aba  da cabeça, erguendo  um pouco o chapéu, sem, contudo o retirar da cabeça, ou tirando-o inteiramente, ou fazendo-o roçar no chão, quase como uma vassoura, tudo dependendo da importância social de quem era saudado. Lembro-me de cenas do filme " Os três Mosqueteiros" onde estas saudações eram galantemente demonstradas. 
Ora Luís XIV, certamente cansado de tantas cortesias, mandou elaborar um manual de etiqueta  onde se regulava que o chapéu só deveria ser retirado em circunstâncias especiais e com movimentos que determinassem o grau de reverência ou seja:  
 Em cerimónias tirava-se o chapéu e inclinava-se ligeiramente a cabeça para frente; e nos momentos de galantaria ou então de respeito, o cidadão deveria tirar o chapéu e dar uma volta com ele por sobre a cabeça, descendo depois o braço até a aba do enfeite tocar o chão.

 Essa novidade chegou a Portugal e ao Brasil no século XVII, trazido da corte francesa talvez no tempo de D. João V (que era um grande admirador e seguidor do rei Sol), e os portugueses passaram a perguntar uns aos outros se era altura de se "tirar o chapéu". Com o passar dos tempos perdeu-se o uso de cobrir a cabeça e esta expressão
 passou a indicar apenas as situações, pessoas ou momentos considerados especiais .

A sua fisionomia não era de "se lhe tirar o chapéu"......



terça-feira, 10 de maio de 2011

Expressões do quotidiano e suas explicações (7).

Para inglês ver

 Não sei se chore ou se ria com esta expressão. Quando falo nas ligações, ao longo da História, entre portugueses e ingleses, sinto sempre uma facada nas costas e vá-se lá saber porquê! Não me dá propriamente vontade de chorar mas sinto-me desconfortável e as dúvidas da Inglaterra  de hoje, se nos apoiam economicamente ou não, deixam-me descrente dessa "amizade" colorida que só existe no papel amarelecido do documento histórico. Por outro lado, a capacidade, bem portuguesa, de fazer leis  ou qualquer outro tipo de coisa só para salvar as aparências, não tendo a mínima intenção de as cumprir, tem o seu lado divertido mas não está isenta de um certo receio, bem presente nos nossos dias! Aparências e promessas feitas "para inglês ver" e que vamos todos pagar.
Talvez esta seja, como muitas outras, uma expressão com várias origens mas a mais comum prende-se com o período liberal . A Inglaterra , um país que tinha explorado a escravidão durante mais de 200 anos, passou a liderar os movimentos antiesclavagistas e, em 1807, proibiu o tráfico de escravos nas suas colónias e pressionou todos os outros países que estavam debaixo da sua alçada para que também o fizessem. Puritanismo é com eles!!.Entre esses, estava o Brasil há poucos anos independente, mas que era economicamente dependente dos ingleses que lideravam a aquisição da produção do café, que estava em plena expansão e também forneciam a maior parte dos produtos manufacturados aos brasileiros , além dos capitais britânicos que iam entrando. Por exigência dos ingleses foi,  em 1830, promulgada uma lei que bania o tráfico negreiro declarando assim livres os escravos que ali chegassem   punindo os importadores. Mas, como o sentimento geral era de que a lei não seria cumprida  e teria começado a circular por todo o lado o comentário de que essa lei  se fizera só "para inglês ver" prevaleceu a ideia que deu origem a esta expressão tão popular e comumente usada  que designa tanto leis que só existem no papel como também qualquer outra coisa feita apenas para preservar as aparências  sem que efectivamente ocorra.



Interior de navio negreiro

A lei era justa e necessária   mas as razões para a sua promulgação teriam sido mais económicas ou humanitárias?! 

domingo, 8 de maio de 2011

Expressões do quotidiano e suas explicações (6).

Não perceber patavina

Tito Lívio

Depois de uns dias fora ,passados não onde "Judas perdeu as botas" mas que me ajudaram a descarregar o "andar com o mundo às costas" não posso afirmar que "não percebi patavina" do que vi em Mérida. Vi o teatro, o circo, o aqueduto, a casa de Mitreo e a ponte, tudo vestígios romanos,numa volta super agradável ao passado, mas também estive no presente vendo a cidade pequena mas bonita, bem arranjada, com lojas engraçadas, consegui beber um café com sabor português (porque o espanhol é uma perfeita tortura para as nossas papilas gustativas) e apaixonei-me por uns brincos,réplicas de ourivesaria  romana, cujo dono era "um espectáculo" de pessoa.
Bom mas hoje é dia da expressão :" não percebi patavina" e como estou a falar de romanos continuo a falar sobre eles e da herança linguística que nos deixaram.
Esta frase é atribuída ao imperador Tito Lívio que, embora  sendo romano tinha uma forma de falar quase inintiligível para os seus contemporâneos , ou seja o seu latim era francamente mau o que dava origem a muitos o não percebessem. Como a sua terra de origem era Patavium ( hoje chamada Pádua, na Itália) tudo o que era dito e não se percebia começou a dizer-se que " não se percebia patavina" .O que não quer dizer que às vezes,  mesmo percebendo não dê  muito jeito empregar esta expressão.....
Não perceber patavina do que o povo  diz
 Outra versão é a de que frades provenientes de Pádua,os Patavinos, que vinham com regularidade a Portugal para terem reuniões, quando falavam na rua com pessoas  os portugueses não percebiam o que eles diziam, mas atendendo a que a Portugal vinham tantos estrangeiros parece-me esta opiniãoum pouco forçado, mas quem sabe?!
Já"não ligar patavinaé diferente. Aqui patavina pode significar uma coisa sem valor, talvez um ceitil.   uma antiga moeda portuguesa que valia muito pouco um sexto do real., ou seja uma quantia insignificante.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Expressões do quotidiano e suas explicações (5).



Jesus e o beijo de Judas
Onde Judas perdeu as botas

Judas Iscariote ficará para sempre conhecido por ter sido o discípulo traidor. Por 30 dinheiros vendeu Cristo aos romanos, mas arrependeu-se, culpou-se  e horrorizado com o seu comportamento suicidou-se enforcando-se numa figueira. 
O interessante é que se matou sem as botas!!!! Sem botas e sem dinheiro ! Uma quantia daquelas não era para desperdiçar e os soldados desconfiaram que o as moedas deveriam ter ficado nas  desaparecidas botas e correram a procurá-las. Encontraram-nas?! Não sei...  e talvez nunca se venha a saber o que foi feito de ambas as coisas! Mas contam que os soldados partiram em busca das ditas botas de Judas, convencidos que ali as encontrariam escondidas.iSe as acharam ou não  não ficou para a história, até porque na Bíblia nunca se fala das botas de Judas,mas a expressão essa atravessou vinte séculos e se queremos dizer ou dar a entender que qualquer coisa ou um local está ou se encontra num sítio longínquo e de difícil acesso lá vem o sempre eterno " está onde Judas perdeu as botas".

                         

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Expressões do quotidiano e suas explicações (4).

Nas suas sete quintas


Nada mais oposto à da expressão anterior do que esta : "Estar nas suas sete quintas". Para já sete também são demais uma só já chegava para me sentir feliz, mas a lenda diz que no concelho do Seixal alguns dos nossos reis tinham sete quintas onde eles e as suas comitivas passavam dias de descanso e satisfação. Afastados do bulício da Corte, dos problemas a resolver, o seu estado de alma devia ser mais aprazível e, talvez daí, venha esta expressão que significa um estado de realização e felicidade, difícil nos nossos dias mas não inalcansável. Basta um bom sofá, uma boa companhia, um bom livro, muita saúde, dinheiro q.b., para já podermos dizer que, se não estamos nas nossas sete quintas, estamos pelo menos muito perto. E este é o sítio onde posso dizer que me sinto nas minhas "sete quintas". 


domingo, 1 de maio de 2011

Expressões do quotidiano e suas explicações (3).

Carregar o mundo às costas


Hoje é da Mãe e neste dia não devemos sentir que "andamos com o mundo às costas". Bastou ao pobre Atlas,um ser mitológico monstruosamente grande, que junto com outros titãs, forças do caos e da desordem, pretenderam alcançar o poder supremo e atacaram o Olimpo, combatendo ferozmente Zeus que ao vencer os castigou, reservando para Atlas um castigo especial… “sustentar nos ombros o peso do céu para toda a eternidade”!
 E este destino terrível  ficou no nosso imaginário e quantos de nós perante as dificuldades e o stress sucumbimos e pela nossa postura e fisionomia parecemos "arrastar" todo o peso do mundo nos nossos ombros esquecendo-nos de que o nosso fardo é, muitas vezes, mais pequeno do que o queremos fazer parecer. Vemos muita gente com um ar sorridente que, no entanto, sofrem angústias reais e dilacerantes enquanto outras com um semblantes extremamente carregados, mais não fazem do que sucumbir ao stress diário e a uma certa inabilidade para fazer face aos contratempos que a todos surgem. Carreguemos a  parte do mundo  que nos calhou e deixemos cada um levar a sua.Deixemos pois Atlas, também  nome da primeira vértebra da coluna cervical, a que sustenta todo o peso da cabeça, aguentar o " o mundo às costas" por toda a eternidade  e tentemos antes um sorriso que nos animará e ajudará os outros.

Hoje não fui buscar esta expressão a nenhum pacote de açúcar. É dia da mãe e o café está fechado.