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terça-feira, 27 de março de 2012

A teia





                             A teia
                         


  Estava sentada a ler quando reparei numa teia que se tinha formado bem perto de mim, tão perto que parecia renda ,e  dei comigo a parar o olhar e a meditar no sentido tão vasto e abrangente de uma palavra tão pequena mas com tantos significados diferentes: teia de ilusões, de afectos e de desenganos, teia  famíliar  mas também  de opiniões falsas, de preconceitos num circulo que faz parte da nossa vida! Podem ser teias aconchegante mas igualmente podem transformar-se em qualquer coisa que nos sufoca, asfixia e nos faz mal. 

  
       
                                      

   Parada a olhar para a aranha que, sem se importar com a minha presença ou atenção, continuava pacientemente a construir o seu circulo, compareia- a com as inúmeras  teias    que, ao longo da vida,  nós fabricamos e,com as outras em que nos envolvemos, nem sempre com a clarividência suficiente para nos apercebermos como é complicado sairmos delas.
  Temos aquelas teias que nos suspendem e aguentam no ar quando parece que o chão vai cair debaixo dos nossos pés e não temos nada a que nos agarrar. São teias quentinhas, fortes que nos servem de cama e conforto nas horas difíceis, uma teia de sorrisos, de palavras, de olhares que  transmitem encorajamento, afeição. Todas elas fazem parte do circulo que tecemos com a nossa família e amigos e aqueles, que não sendo uma coisa nem outra, deixaram um rasto indelével  no nosso caminho. São teias refrescantes, alicerces de um quotidiano, amparo e pilar da nossa existência escoras ,e protecção das nossas fragilidades. 
  As outras que nos enredaram  e manipularam, ao longo da vida, que nos fizeram tomar decisões contrárias aquelas que gostaríamos, que condicionaram o  nosso modo de estar e de ser, são um teste à nossa capacidade de as romper ou alargar de maneira a podermos respirar no meio desses fios que nos enredam.
  O que faz uma simples e inofensiva teia de aranha que, calhou estar instalada no mesmo espaço que eu, brilhando, na sua transparência, num fim de tarde primaveril, enquanto lia e ouvia a risada dos meus netos.  Foram poucos minutos de reflexão sobre ela mas aquele diálogo mudo serenou-me. A teia que construí é bastante resistente, tem alguns pontos fracos mas é como tudo na vida. É preciso saber evitá-los para não cair e continuar, com cautela, a tecer os poucos fios que já me faltam tentando não deixar fios soltos mas construindo os novos com  a esperança que sejam de boa qualidade !  É isso! A qualidade dos fios é que é essencial e, para o conseguir, tenho que utlizar uma das principais "máximas" da minha vida. Tenho que fazer economia de alma (até aqui já chegou a crise)! E, do fundo do coração agradeço à aranha o que me ensinou,com o seu trabalho lento e meticuloso!  

   

quinta-feira, 1 de março de 2012

Downton Abbey - uma série de eleição



Vale a pena ver




A série agora estreada na Sic é uma das melhores e mais encantadoras destes últimos meses. Tive a sorte de a ver num outro canal e foi uma delícia para os sentidos. Aqui sim, usam-se os sentidos. Desempenho de actores, figurinos, decoração, recriação da época tudo nos prende e. nem se sabe por onde começar a abordar os diversos aspectos, em que os enredos amorosos não constituem  os principais factores de interessel. É uma série em que apetece descobrir as várias facetas deste pequeno mundo do início do século XX ,a riqueza dos temas que nela são abordados e a recriação lindíssima.
O mundo paralelo dos criados da casa e dos patrões é um dos mais interessantes. Assistimos a  um quotidiano cheio de regras e de rituais e a uma lenta transformação de mentalidades,. Numa altura em que  ter estatuto também se media pelo número de criados de uma casa, as grandes mansões chegavam a ter  quarenta criados internos, em Downton são delicadamente caracterizados os principais.

  Personagens de uma vida difícil  e dedicada a servir os outros

 
Principais  criados da série


O mordomo


O principal criado da casa era  o mordomo, brilhantemente interpretado por Jim Carter, porte de cavalheiro mas  consciente do seu lugar, orgulhoso dele, defendendo os valores da época tão ou mais que o patrão, conscencioso e respeitado por todos.A governanta, os valetes, as criadas de quarto, a cozinheira com as suas ajudantes,os criados de libré, os lacaios, todo um submundo que vive na mesma casa mas não convive com os proprietários e, contudo, em espaços diferentes sofre das mesmas as ambições, intrigas, amores e desamores, fraquezas e segredos! U um grupo cuja existência era dedicada basicamente a garantir que outro grupo, o dos patrões, encontrasse ao seu alcance tudo o que pudesse desejar  mas  com relações, entre eles,  tão hierarquizadas que frequentemente os patrões desconheciam como as condições em que os seus criados viviam numa outra área da casa,  limitando-se, frequentemente, a só saber os seus nomes.


A "pecadora despedida"
Não que a vida para os criados não era inteiramente má. Tinham um relativo conforto, vestiam-se decentemente, tinham lugar onde dormir todas as noites, comiam bem, o que nessa altura era muito importante. mas a sua situação podia tornar-se precária e vulnerável por vários motivos, desde o interesse excessivo do patrão até qao poderem ser acusados de quase tudo tornando-se os bodes expiatórios perfeitos.O despedimento sobretudo para as mulheres era uma calamidade pois perdiam tudo : emprego,subsistência abrigo e atá perspectivas quanto ao futuro, situações que a série nos oferece permitindo sentir  o quão era frágil a sua situação em tais casos.






A fiel, dedicada Ana
 
  

       
O mundo da cozinheira....



A cozinheira, a ajudante de cozinha e o que parte para a guerra........ 
  

Ambiciosos e intriguistas

                                                                                                                     
Havia muito que fazer e necessários e trabalhavam arduamente. O dia normal, para eles, ia das seis e meia da manhã às dez da noite ou até mais tarde se, na casa, havia algum evento social.





Uma simples refeição para 10 pessoas podia obrigar ao uso e lavagem de, por exemplo, 400 pratos
copos,ou talheres.
Assistimos às cenas em que Daisy, a criada mais jovem da casa e todos os outros se atarefam a acender a lareira,engraxar sapatos,limpar dúzias de candeeiros, prepararem os pequenos almoços antes de os patrões acordarem. É um movimento incessante, silencioso e árduo para que os que dormem tenham tudo preparado mal abram os olhos. À sua espera terão os respectivos criados para os ajudarem a vestir e pentear . Em casas sem canalizações a água para as abluções  matinais era carregada escada acima em recipientes e depois de usada era retirada e transportada noutros recipientes diferentes escada abaixo. Era um trabalho pesado e difícil e que quando se tratava de banhos se tornava hercúleo.  


Limpar  mobílias, polir mesas, limpar as inúmeras habitações da casa, cortinados, pratas, espelhos, mármores, vidros,fazer camas, despejos (levados por uma escada diferente para não se cruzarem com aqueles a quem estes tinham pertencido) cozinhar, servir refeições, lavar a loiça,(algumas panelas chegavam a pesar quase 30 quilos) cozinhar, lavar e marcar roupa, engomá-la , trabalho complicado porque os ferros aqueciam depressa e tinham que ser usados rapidamente e depois trocados por outros acabados de aquecer, não esquecendo que eram utensílios pesados e era preciso pressioná-los com força para a roupa ficar perfeitamente passada. Tudo tinha que ser regularmente polido e limpo.
Algumas vezes, na série, aparece retratada a exaustiva tarefa  de limpar e polir facas e garfos que tinham que se manter brilhantes. Eram lavados, polidos, esfregados com um produto caseiramente preparado, como muitos outros, e ainda antes de guardadas as facas, para não enferrujarem eram untadas com gordura de borrego e embrulhadas em papel pardo. Para serem usadas tinham que ser novamente lavadas.!......

E é este mundo duro na sua realidade mas tratado de forma sensível e humana que nos fascina nesta série que tão bem retrata os dramas pessoais de cada um e a vivência naquele mundo escondido dos grandes salões, mas que palpita e é a base de tudo o que se passa no outro lado desta mansão que ainda tem tanto para descobrir. 



O mordomo a governanta e a criada de quarto